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quinta-feira, 19 de abril de 2012

“A Questão da Palestina: Os desdobramentos da Guerra Fria”

O conflito árabe-israelense é um dos mais preocupantes atualmente. Sua dimensão é difícil de ser calculada na medida em que envolve diversos Estados do mundo árabe – além da Palestina – que vem tentando, ao longo dos anos, manter sua identidade, enquanto civilização árabe, por meio, principalmente da rejeição à Israel. Manter uma relação pacífica entre esses dois povos se tornou uma das principais questões da agenda internacional atualmente.
Foram várias tentativas fracassadas de impor paz à região, que muitas vezes levaram em conta apenas os interesses e os atores envolvidos. Porém, é necessário analisar fatos históricos que acabaram por influenciar o conflito, deixando resquícios que até hoje são percebíveis. Entre eles, a Guerra Fria foi um dos momentos históricos mais marcantes na questão palestina. O fornecimento de recursos à Israel e a Palestina pelos Estados Unidos e a União Soviética acabou os inserindo indefinidamente no complexo jogo de xadrez travado pelas duas maiores potências da Guerra Fria. Contudo, o apoio não se limitou aos recursos – uma das maiores influências foi a ideológica.
O soviético Conselho Mundial para a Paz (CMP) – ao apoiar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de Yasser Arafat – forçou uma interpretação mais marxista das relações internacionais. Mesmo após a queda da URSS, a Palestina continua sendo uma bandeira dos ideais de esquerda, mantendo interesses como a preservação de seu Estado, cultura e modo de vida. Por outro lado, Israel recebe apoio do governo, com bases sionistas, dos EUA, que controla os meios de comunicação, transmitindo reportagens por meio dos “olhos de Israel”. Palestinos mais extremistas caracterizam o conflito como regional, resultado de um conflito global, impedindo assim a tolerância entre as partes.
Após o fim da Guerra Fria o Iraque se tornou neutro, as tensões internacionais diminuíram e a pressão dos EUA contra o radicalismo de Israel cresceu. Isso abriu portas para a resolução diplomática do conflito e a confrontação constante foi trocada pela negociação. Uma conseqüência imediata foi a assinatura, em 1993, do Acordo de Oslo I, que representava o reconhecimento mútuo tanto do Estado de Israel pela OLP quanto a aceitação da OLP como legítima representante do povo palestino por Israel.
Apesar de o Oslo I ter representado um avanço, a chegada ao poder, em 1996, do Partido Likud (conservador) em Israel significou um congelamento do processo de paz. O fanatismo religioso, o preconceito e o ódio ainda representam obstáculos. Alguns fatos marcantes como o assassinato de Yitzhah Rabin em 1995, o ressurgimento dos atos terroristas palestinos e os ataques de Israel a civis demonstram que ainda há muito a ser feito para alcançar a paz no Oriente Médio.
Enfim, levando em conta a interferência ideológica à que até hoje estão submetidos israelenses e palestinos, para alcançar a paz seria fundamental que as partes primeiramente se libertassem de suas bases ideológicas que são tão sólidas. A partir disso, deixando para trás os resquícios da Guerra Fria, se tornaria mais viável resolver o conflito com base nas verdadeiras necessidades, que vão muito além daquelas políticas ou de status quo.

Referências:
NETO, José Ribeiro Machado. A questão palestina: repetição, renascimento e independência unilateral, um novo affair no Oriente Médio. Mundorama (2011).
MENEZES, Roberto. Questão árabe-israelense. Uol Atualidades (2011).
PETRAS, James. Os Crimes de Guerra de Israel: do USS liberty à Flotilha Humanitária. Resistir (2010).

quarta-feira, 18 de abril de 2012

“A Questão da Palestina: Os desdobramentos da Guerra Fria”

O conflito árabe-israelense é um dos mais preocupantes atualmente. Sua dimensão é difícil de ser calculada na medida em que envolve diversos Estados do mundo árabe – além da Palestina – que vem tentando, ao longo dos anos, manter sua identidade, enquanto civilização árabe, por meio, principalmente da rejeição à Israel. Em função disso, manter uma relação pacífica entre esses dois povos se tornou uma das principais questões da agenda internacional atualmente.
Foram várias tentativas fracassadas de impor paz à região, que muitas vezes levaram em conta apenas os interesses e os atores envolvidos. Porém, é necessário analisar fatos históricos que acabaram por influenciar o conflito, deixando resquícios que até hoje são percebíveis. Entre eles, talvez tenha sido a Guerra Fria um dos episódios mais marcantes no histórico da questão palestina. O fornecimento de recursos à ambos os lados do conflito pelos Estados Unidos e a União Soviética acabou por inserir indefinidamente Israel e a Palestina no complexo jogo de xadrez travado pelas duas maiores potências da Guerra Fria. Contudo, no caso da Palestina, o apoio não se limitou aos recursos, uma das maiores influências foi, sem dúvida, a ideológica.
O soviético Conselho Mundial para a Paz (CMP) – ao apoiar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de Yasser Arafat – forçou uma interpretação mais marxista das relações internacionais. Mesmo após a queda da URSS, a Palestina continua sendo uma bandeira dos ideais de esquerda, mantendo interesses como a preservação de seu Estado, cultura e modo de vida. Palestinos mais extremistas caracterizam o conflito como regional, resultado de um conflito global, impedindo assim a tolerância entre as partes.
Após o fim da Guerra Fria o Iraque se tornou neutro, as tensões internacionais diminuíram e a pressão dos EUA contra o radicalismo de Israel cresceu. Isso abriu portas para a resolução diplomática do conflito e a confrontação constante foi trocada pela negociação. Uma conseqüência imediata foi a assinatura, em 1993, do Acordo de Oslo I, que representava o reconhecimento mútuo tanto do Estado de Israel pela OLP quanto a aceitação da OLP como legítima representante do povo palestino por Israel.
Apesar de o Oslo I ter representado um avanço, a chegada ao poder, em 1996, do Partido Likud (conservador) em Israel significou um congelamento do processo de paz. O fanatismo religioso, preconceito e ódio ainda representam obstáculos. Alguns fatos marcantes como o assassinato de Yitzhah Rabin em 1995, o ressurgimento dos atos terroristas palestinos e os ataques de Israel a civis demonstram que ainda há muito a ser feito para alcançar a paz no Oriente Médio. 
Enfim, levando em conta a interferência ideológica à que até hoje estão submetidos israelenses e, principalmente, palestinos, para a resolução desse conflito seria fundamental que as partes primeiramente se libertassem de parte de suas bases ideológicas que são tão sólidas. A partir disso, deixando para trás os resquícios da Guerra Fria, se tornaria mais viável resolver o conflito com base nas verdadeiras necessidades, que vão muito além daquelas políticas ou de status quo

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Você concorda com a posição que defende a perda de poder dos EUA no Sistema Internacional? A Política dos EUA nos anos 1990 teve relação com a situação atual da potência?

O sucesso dos Estados Unidos como potência hegemônica criou as condições para sua própria extinção. Para explicar melhor esse declino é importante levar em conta quatro símbolos principais: Vietnã, 1968, 1989 e 11 de setembro. Esses quatro acontecimentos se combinaram para que a única superpotência existente se encontrasse sem poder real.
A guerra do Vietnã, além de um esforço dos vietnamitas em busca da independência, foi – geopoliticamente falando – uma espécie de rejeição a Ialta. O Vietnã se tornou um marco no declínio estadunidense, porque, embora os EUA não tenham usado as armas nucleares de que dispunham, utilizaram toda sua força militar e perderam. Além de um golpe moral e militar, a guerra causou grande impacto econômico, desestabilizando-o como economia dominante. Além de caro, o conflito coincidiu com ascensão econômica do Japão, por exemplo, que foi auxiliada diretamente pelo capital americano investido no confronto.
Depois disso, ocorreu a revolução de 1968, que condenava a hegemonia dos EUA no mundo. Embora não tenha causado grandes conseqüências políticas, os resultados geoculturais foram grandes. A posição ideológica estadunidense ficou balançada e desacreditada.
Anos mais tarde, e diferente do que muitos acreditam, a União Soviética colapsava, sem a ajuda dos Estados Unidos, que nem estavam esperando que isso acontecesse. Gorbatchev enfim conseguira acabar não só com Ialta, mas também com o regime soviético. Com o fim de Ialta e do comunismo, Saddam Hussein encontrou a oportunidade de invadir finalmente o Kuwait, levando a nova intervenção americana, que terminou com um empate, uma trégua. Mais uma vez a hegemonia dos EUA estava sendo colocada a prova, Hussein caiu fora sem punição. Esse incidente faria surgir nesse momento um sentimento que teria levado a invasão do Iraque anos mais tarde.
O período que se seguiu após a queda do muro de Berlim representou um Boom para a economia americana. Contudo, esse boom foi coincidente com uma série de erros norte-americanos. O sistema regulador dos EUA nos anos 90 era considerado ultrapassado, os governos dessa época pregavam a constante desregulamentação de setores – como os ligados a energia, telecomunicações e finanças – corte de impostos sobre ganhos de capital, os incentivos concedidos eram distorcidos e manter a exuberância custou caro. Tudo isso mostra que os EUA perderam, momentaneamente, de vista o papel de gerador de equilíbrio desempenhado pelo Estado, que, além de melhorar o funcionamento dos mercados, evita conflitos de interesses entre as empresas. Os privilégios concedidos ao setor privado e a idealização dele, aliados ao crescimento a baixo custo, quando se contraíram diversos empréstimos do exterior para suprir a diferença entre o que se poupava e o que se investia, causaram a falta de firmeza para com os princípios do Estado norte-americano e a falta de visão de longo prazo.
Se tudo isso já não fosse o suficiente, os EUA ainda criaram o Consenso de Washington que previa a abertura de mercado para muitas nações despreparadas. Era nessa época também que a globalização atingiria seu auge, e ao mesmo tempo em que trouxe alguns benefícios para as nações, acabou não cumprindo tudo que foi prometido, aumentou a pobreza e gerou drásticos ressentimentos do mundo para com os EUA.
Talvez esses ressentimentos tenham ficado ainda mais evidentes em 2001. O atentado terrorista de 11 de setembro foi um dos capítulos finais para o declínio estadunidense e talvez tudo tivesse sido diferente caso, nesse período, o país tivesse optado por se recolher e adotar uma posição isolacionista. Mas o que de fato aconteceu foi uma invasão com fundo político-econômico, e sem muitas boas intenções, que além de ter causado catastróficos danos a população iraquiana – devido aos embargos econômicos principalmente – causou também danos irreversíveis à economia e à sociedade americana, que já estavam esgotadas. A retirada completa das tropas do Iraque, embora necessária, desestabilizaria novamente a potência norte-americana, dando a ela uma imagem de ineficaz.
Levando em conta esses quatro períodos, mostra-se incontestável o declínio estadunidense, quanto a isso não restam dúvidas. Para Wallerstein, vivemos o fim de um ciclo político, o fim da hegemonia americana. Entretanto, para o teórico, embora os EUA continuem a ser um importante ator, jamais recuperarão a antiga posição dominante, tudo isso devido à constante multiplicação dos centros de poder. Talvez não vejamos mais emergir uma potência multidimensional à altura de substituir a americana, levando o sistema a um período de multipolaridade. A economia-mundo passa hoje por uma fase de estagnação relativa, uma coincidência de fatores que contribuíram para levar o mundo a uma crise sem perspectiva de fim.

O 11 de Setembro trouxe para o primeiro plano da nossa atenção cinco realidades sobre os Estados Unidos: os limites do seu poder militar; a profundidade do sentimento antiamericano no mundo; a ressaca dos excessos econômicos da década de 1990; as pressões contraditórias do nacionalismo norte-americano; a fragilidade da nossa tradição de liberdades civis. Immanuel Wallerstein

A maior questão, então, não seria mais o declínio norte-americano, a questão é que é um tanto difícil para nós imaginarmos como essa decadência poderia acontecer de maneira elegante e causando os menores danos possíveis para o mundo, que sente as conseqüências do imperialismo americano, que forçou demais e já está ruindo.