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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Você concorda com a posição que defende a perda de poder dos EUA no Sistema Internacional? A Política dos EUA nos anos 1990 teve relação com a situação atual da potência?

O sucesso dos Estados Unidos como potência hegemônica criou as condições para sua própria extinção. Para explicar melhor esse declino é importante levar em conta quatro símbolos principais: Vietnã, 1968, 1989 e 11 de setembro. Esses quatro acontecimentos se combinaram para que a única superpotência existente se encontrasse sem poder real.
A guerra do Vietnã, além de um esforço dos vietnamitas em busca da independência, foi – geopoliticamente falando – uma espécie de rejeição a Ialta. O Vietnã se tornou um marco no declínio estadunidense, porque, embora os EUA não tenham usado as armas nucleares de que dispunham, utilizaram toda sua força militar e perderam. Além de um golpe moral e militar, a guerra causou grande impacto econômico, desestabilizando-o como economia dominante. Além de caro, o conflito coincidiu com ascensão econômica do Japão, por exemplo, que foi auxiliada diretamente pelo capital americano investido no confronto.
Depois disso, ocorreu a revolução de 1968, que condenava a hegemonia dos EUA no mundo. Embora não tenha causado grandes conseqüências políticas, os resultados geoculturais foram grandes. A posição ideológica estadunidense ficou balançada e desacreditada.
Anos mais tarde, e diferente do que muitos acreditam, a União Soviética colapsava, sem a ajuda dos Estados Unidos, que nem estavam esperando que isso acontecesse. Gorbatchev enfim conseguira acabar não só com Ialta, mas também com o regime soviético. Com o fim de Ialta e do comunismo, Saddam Hussein encontrou a oportunidade de invadir finalmente o Kuwait, levando a nova intervenção americana, que terminou com um empate, uma trégua. Mais uma vez a hegemonia dos EUA estava sendo colocada a prova, Hussein caiu fora sem punição. Esse incidente faria surgir nesse momento um sentimento que teria levado a invasão do Iraque anos mais tarde.
O período que se seguiu após a queda do muro de Berlim representou um Boom para a economia americana. Contudo, esse boom foi coincidente com uma série de erros norte-americanos. O sistema regulador dos EUA nos anos 90 era considerado ultrapassado, os governos dessa época pregavam a constante desregulamentação de setores – como os ligados a energia, telecomunicações e finanças – corte de impostos sobre ganhos de capital, os incentivos concedidos eram distorcidos e manter a exuberância custou caro. Tudo isso mostra que os EUA perderam, momentaneamente, de vista o papel de gerador de equilíbrio desempenhado pelo Estado, que, além de melhorar o funcionamento dos mercados, evita conflitos de interesses entre as empresas. Os privilégios concedidos ao setor privado e a idealização dele, aliados ao crescimento a baixo custo, quando se contraíram diversos empréstimos do exterior para suprir a diferença entre o que se poupava e o que se investia, causaram a falta de firmeza para com os princípios do Estado norte-americano e a falta de visão de longo prazo.
Se tudo isso já não fosse o suficiente, os EUA ainda criaram o Consenso de Washington que previa a abertura de mercado para muitas nações despreparadas. Era nessa época também que a globalização atingiria seu auge, e ao mesmo tempo em que trouxe alguns benefícios para as nações, acabou não cumprindo tudo que foi prometido, aumentou a pobreza e gerou drásticos ressentimentos do mundo para com os EUA.
Talvez esses ressentimentos tenham ficado ainda mais evidentes em 2001. O atentado terrorista de 11 de setembro foi um dos capítulos finais para o declínio estadunidense e talvez tudo tivesse sido diferente caso, nesse período, o país tivesse optado por se recolher e adotar uma posição isolacionista. Mas o que de fato aconteceu foi uma invasão com fundo político-econômico, e sem muitas boas intenções, que além de ter causado catastróficos danos a população iraquiana – devido aos embargos econômicos principalmente – causou também danos irreversíveis à economia e à sociedade americana, que já estavam esgotadas. A retirada completa das tropas do Iraque, embora necessária, desestabilizaria novamente a potência norte-americana, dando a ela uma imagem de ineficaz.
Levando em conta esses quatro períodos, mostra-se incontestável o declínio estadunidense, quanto a isso não restam dúvidas. Para Wallerstein, vivemos o fim de um ciclo político, o fim da hegemonia americana. Entretanto, para o teórico, embora os EUA continuem a ser um importante ator, jamais recuperarão a antiga posição dominante, tudo isso devido à constante multiplicação dos centros de poder. Talvez não vejamos mais emergir uma potência multidimensional à altura de substituir a americana, levando o sistema a um período de multipolaridade. A economia-mundo passa hoje por uma fase de estagnação relativa, uma coincidência de fatores que contribuíram para levar o mundo a uma crise sem perspectiva de fim.

O 11 de Setembro trouxe para o primeiro plano da nossa atenção cinco realidades sobre os Estados Unidos: os limites do seu poder militar; a profundidade do sentimento antiamericano no mundo; a ressaca dos excessos econômicos da década de 1990; as pressões contraditórias do nacionalismo norte-americano; a fragilidade da nossa tradição de liberdades civis. Immanuel Wallerstein

A maior questão, então, não seria mais o declínio norte-americano, a questão é que é um tanto difícil para nós imaginarmos como essa decadência poderia acontecer de maneira elegante e causando os menores danos possíveis para o mundo, que sente as conseqüências do imperialismo americano, que forçou demais e já está ruindo. 

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